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‘Rota do furto’: atrás de cobre, ladrões de cemitérios depredam lápides e saqueiam até o túmulo de Clara Nunes

Atrás de cobre, ladrões têm invadido cemitérios e depredam túmulos atrás do material

Introdução

A série "Rota do furto" revelou como o mercado ilegal tem causado diversos problemas na sociedade, desde a falta de segurança até a destruição do patrimônio histórico. Além dos furto de cabos, ladrões têm invadido cemitérios e depredado túmulos em busca de cobre, que é comprado por ferros-velhos à margem da lei. No último capítulo da série, foi investigado o Cemitério São João Batista, em Botafogo - o segundo mais antigo do Rio de Janeiro e um dos mais visados pelos criminosos.

O crime que ameaça o patrimônio histórico

No Cemitério São João Batista, as madrugadas são marcadas por atos de vandalismo. Alças, cruzes, placas e até letras são arrancadas do mármore dos túmulos. Nem mesmo o túmulo da cantora Clara Nunes escapou. A aposentada Sueli Carrilho teve que substituir os ornamentos em bronze do túmulo de sua mãe por peças de plástico. A ação dos ladrões ameaça o patrimônio histórico do Rio de Janeiro, já que a arquitetura tumular da cidade é uma das mais ricas do país.

"A arquitetura tumular no Rio de Janeiro é a mais rica do país. Você vê o monumento ao Marquês de Paraná no estado em que se encontra hoje, chega a ser um crime. É imoral. Acho que falta mais do que segurança, acho que falta uma consciência do poder público, da concessionária, essa consciência histórica que a gente não tem", pontuou José Marconi Marques de Andrade, restaurador e fundador do grupo SOS Patrimônio.

Do vício às mudanças de rumo

Em meio a esse cenário caótico, o perfil dos ladrões tem passado por mudanças. Além dos usuários de drogas que atuam de forma individual ou em pequenos grupos, quadrilhas mais estruturadas e apoiadas pelo crime organizado têm se envolvido nos furtos. Um homem, que prefere não se identificar, conta que começou a roubar cabos para sustentar o vício em drogas. "Conheci a maconha, da maconha já fui para a cocaína. Aí, fiz 18 anos, passei a vir para o Centro da cidade, abandonei família, abandonei todo mundo", relata.

O roubo de cabos logo se tornou sua principal fonte de renda. No entanto, tudo mudou quando o amigo conhecido como "Mineiro" morreu ao sofrer uma descarga elétrica durante um dos furtos. Chocado com a tragédia, ele decidiu mudar de vida e atualmente trabalha em um projeto que acolhe pessoas em vulnerabilidade e tenta conscientizar sobre as consequências desse tipo de crime.

A dificuldade da investigação e a mudança no combate

As investigações desses crimes enfrentam dificuldades, assim como o trabalho do policiamento preventivo. Muitos furtos acontecem com a ajuda de informações privilegiadas, sendo que o tráfico de drogas chega a ter ingerência direta nesse tipo de atividade criminosa. Além disso, tem havido um deslocamento de ferros-velhos para o interior de comunidades, dificultando ainda mais a fiscalização.

A polícia destaca a importância da colaboração das empresas para combater esses furtos. O compartilhamento de imagens de circuitos internos de segurança e a troca de informações são fundamentais para identificar os criminosos e compreender a dinâmica dessas ações.

Exemplos de outras cidades

O Rio de Janeiro busca inspiração em experiências de outras cidades para combater esse tipo de crime. Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, conseguiu reduzir os furtos de cabos em 86% em um ano. A articulação entre as autoridades e a identificação de receptadores foram fundamentais para o sucesso dessa medida. Em Belo Horizonte, uma alternativa encontrada para diminuir os furtos foi substituir as peças dos sinais por outras de plástico e modificar os cabos, eliminando o uso do cobre como matéria-prima.

Conclusão

A série "Rota do furto" deixou evidente a gravidade do mercado ilegal de cobre e sua relação com outros crimes. Os prejuízos vão além do valor financeiro, afetando a segurança da população e a preservação do patrimônio histórico. O combate a essa prática exige ação conjunta das autoridades, colaboração das empresas e conscientização da sociedade como um todo. Somente através dessas medidas será possível deter o avanço desses crimes e preservar o bem-estar da população.

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